segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Propaganda de farofa
terça-feira, 18 de agosto de 2015
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Temos diante de nós uma tarefa...
quarta-feira, 29 de julho de 2015
Canção para Cecil
Cecil, você era quase um Deus
Cecil, por que você morreu?
Nas mãos de um animal bossal
Cortem a cabeça de do dentista Walter Palmer!
Devolvam a cabeça de Cecil!
Cortem a cabeça de do dentista Palmer!
Só pelo prazer de ver morrer!
Walter Palmer, no céu, Cecil vai caçar você!
E lhe mandar ao inferno!
Cortem a cabeça de Walter Palmer
Dentista que matou leão no Zimbábue é alvo de ira nas redes sociais
- Há 2 horas
O dentista americano Walter Palmer, que matou o leão Cecil, no Zimbábue, está sendo alvo de ataques irados nas redes sociais.
O americano do Estado de Minnesota já havia participado de várias caçadas no passado e matou com uma besta o leão de 13 anos de idade, no Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue.
Agora, ele está enfrentando a indignação de desde internautas obscuros até celebridades, como Sharon Osbourne (esposa do roqueiro Ozzy Osbourne) e a modelo e atriz Cara Delevigne, após sua identidade ter vindo à tona.
A página de seu consultório, River Bluff Dental, no site Yelp - que reúne resenhas de estabelecimentos comerciais feitas por internautas - sofreu uma série de ataques indignados e a página do estabelecimento no Facebook foi tirada do ar.
Alvo de internautas
Leia mais: Dentista americano é acusado de matar leão mais famoso do Zimbábue
Leia mais: Como o fascínio da humanidade com o 'rei dos animais' acabou com uma espécie
"Walter precisa ser enviado de navio ao Zimbábue e colocado em um parque selvagem para que alguém possa CAÇÁ-LO ao longo de 40 horas e ver o quão durão e macho ele é", escreveu a internauta Mary B.
"Você me dá nojo...eu espero que seu consultório dentário seja fechado e você seja boicotado para sempre...Cecil era amado por todos seus visitantes, sua leoa e seus filhotes....e veja agora o que você fez...seu desalmado, covarde, assassino...", foi o comentário de Kim T.
Já o internauta californiano Bryan F., optou pelo deboche, ao se identificar como sendo o ministro da Justiça do Zimbábue, dizendo em sua mensagem que "precisa imediatamente de um dentista".
Ele acrescentou que sabia que Palmer estava de férias, mas disse também que "está disposto a pagar generosamente pela sua assistência" e ainda que "transporte e acomodações serão providenciados gratuitamente".
Foi criada também uma conta de Twitter satírica com o nome do consultório do dentista
Nela, foram postadas imagens e comentários jocosos, como um tuíte em que a atriz Judy Garland vivendo a personagem Dorothy do filme 'O Mágico de Oz' enxuga as lágrimas do leão, seguido da frase: "Nós esperamos que nossa força siga intacta. Essa negatividade está tendo um peso sobre todos nós e sobre os nossos negócios".
Internautas brasileiros expressaram desde indignação até comoção diante da morte do animal.
Um exemplo do primeiro caso foi expresso por Jorge M. Fernandes, que tuitou "#CecilTheLion - Tirem os dentes ao dentista que matou o leão Cecil!!"
Já Anna Lu, em sua conta de Twitter, disse estar "tão emocionalmente abalada" que estava "chorando e sofrendo horrores com a morte do Cecil, o leão símbolo do Zimbábue".
A apresentadora e empresária Sharon Osbourne escreveu, em um tuíte, que "#WalterPalmer é satã. Não sei como alguém poderá procurar esse homem para um tratamento dentário depois disso. Ele é um matador. Cuidado!"
Já a modelo e atriz Cara Delevigne afirmou em sua conta de Twitter que "esse #WalterPalmer é um arremedo de ser humano".
Morte do leão
Acredita-se que o turista americano tenha pago cerca de US$ 50 mil para caçar o leão no Zimbábue.
Cecil teria sido atraído para fora da reserva natural onde vivia pelo grupo de caçadores que incluía Walter Palmer.
Após ter sido morto a tiros, o leão teve sua pele arrancada e foi decapitado.
Mais de 265 mil pessoas assinaram uma petição pedindo "Justiça para Cecil", pedindo punição para os envolvidos com a morte do animal.
Walter Palmer afirmou que não sabia que havia feito nada ilegal e acrescentou que não sabia que Cecil era um animal que vivia sob proteção.
Gosto musical revela como as pessoas pensam, diz estudo
mas isso não é novidade né gente...
Gosto musical revela como as pessoas pensam, diz estudo
- Há 8 horas
O gosto musical de uma pessoa pode dar pistas sobre a maneira como ela pensa, e vice-versa, segundo pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Publicado na plataforma Plos One, o estudo apontou que pessoas empáticas, com maior capacidade de se identificar com outra pessoa, preferiram músicas mais suaves, de baixa energia.
Já aquelas classificadas como "sistemáticas" - pessoas que procuram analisar padrões no mundo - optaram por punk, heavy metal e músicas em geral mais complexas.
Os pesquisadores afirmam que o trabalho pode ter implicações para a indústria musical.
Leia mais: Oito inusitados festivais do verão britânico
Leia mais: Como tirar aquela música 'grudenta' da cabeça?
Muitas pessoas tomam decisões instantâneas sobre músicas que gostam ou não gostam, mas cientistas afirmam que os mecanismos dessas preferências continuam pouco claros.
Pesquisa com ouvintes
Para investigar essa questão, pesquisadores recrutaram 4 mil participantes, que foram submetidos a diferentes testes.
Primeiramente, eles foram solicitados a preencher questionários com afirmações desenhadas para investigar se eram mais "empáticos" ou "sistemáticos".
Os participantes responderam, por exemplo, se tinham interesse por design e construção de motores de carro, e se eram bons em prever o sentimento das pessoas.
Depois, foram submetidos a 50 trechos curtos de músicas, de 26 estilos diferentes, e tiveram que dar notas de 1 a 10 para cada trecho.
Pessoas com alto índice de empatia tiveram maior inclinação a gêneros como R&B, soft rock e folk.
Por outro lado, quem se aproximou mais do perfil "sistemático" teve tendência a gostar da música de bandas de heavy metal e de jazz contemporâneo.
Participantes com altos índices de empatia se aproximaram de músicas como a versão de Jeff Buckley para Hallelujah, de Leonard Cohen, e Come Away with Me, de Norah Jones.
E quem foi identificado como "sistemático" teve maior conexão com músicas como Enter Sandman, do Metallica.
Ao avançar na investigação, pesquisadores descobriram que dentro de um mesmo gênero musical havia diferenças na intensidade e no estilo de música preferido por cada grupo.
David Greenberg, doutorando em Cambridge, sugere que esses achados podem ser úteis à indústria da música.
"No Spotify e na Apple Music, por exemplo, há muito dinheiro sendo gasto com algoritmos para escolher quais músicas você deverá gostar", afirma.
"E entendendo o estilo de pensamento de determinada pessoa, tais serviços poderão no futuro alinhar suas recomendações musicais a esses padrões."
segunda-feira, 22 de junho de 2015
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Uso de maconha não aumentou após a legalização nos EUA
EUA: Uso de maconha por adolescentes não aumentou em estados que legalizaram a erva, diz estudo. Pesquisa revelou que não houve crescimento significativo em 21 dos 50 estados em que é permitido o consumo de maconha para fins medicinais
Nos Estados Unidos, ao menos 24 de 50 estados já autorizam o uso de maconha para fins medicinais. Ao contrário do que muitos opositores à prática acreditam, um estudo divulgado na segunda-feira (15/06) pela publicação científica The Lancet revela que a legislação não serviu de estímulo para o uso por adolescentes nessas regiões.
"Nossas descobertas proporcionam uma forte evidência de que o uso de maconha por adolescentes não aumentou após um estado legalizar a maconha medicinal", afirmou Deborah Hasin, autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Columbia, em Nova York, em nota.
Embora mais adolescentes estejam fumando maconha, a legislação não é o motivo que explica o crescimento do uso. Segundo a pesquisa, não houve aumento significativo em 21 estados que é permitida a maconha medicinal.
O estudo foi organizado a partir de uma enquete financiada pelo governo com mais de um milhão de estudantes do equivalente ao 9º ano, 1º colegial e 3º colegial de 48 estados norte-americanos entre 1991 e 2014.
Com a análise de dados, a estudo tentava descobrir se anteriormente o consumo de maconha era maior em estados que hoje em dia permitem o uso medicinal e quais foram as alterações na população jovem após a aprovação.
Os pesquisadores concluíram que o consumo da maconha já tendia a ser mais alto em estados que posteriormente a legalizaram com fins medicinais, mas eles não viram um aumento de pico depois que a legislação foi aprovada em cada região. Na verdade, foi visto um declínio do uso por estudantes do 9º ano desses estados.
terça-feira, 16 de junho de 2015
quarta-feira, 3 de junho de 2015
O Fim da Alta Fidelidade
O Fim da Alta Fidelidade
No auge da era do MP3, a qualidade do som fica cada vez piorDavid Bendeth, produtor que trabalha com bandas como Hawthorne Heights e Paramore, sabe que os discos que faz acabam sendo ouvidos através de pequenas caixas de computador enquanto os fãs navegam na internet. Assim, ele não se surpreende quando as gravadoras pedem para que os engenheiros de masterização aumentem bastante o nível do som, de forma que até as partes mais suaves das músicas fiquem altas.
Na última década e meia, uma revolução na tecnologia de gravação mudou a forma como álbuns são produzidos, mixados e masterizados - quase sempre para pior. "Eles querem que os álbuns fiquem mais altos para conquistar a atenção [dos ouvintes]", diz Bendeth. Os engenheiros fazem isso através da aplicação da compressão dinâmica, que reduz a diferença entre os sons mais altos e os mais suaves em uma música. Como muitos de seus colegas de profissão, Bendeth acredita que utilizar esse efeito pode obscurecer detalhes sonoros, roubar a força emocional da música e deixar os ouvintes com o que os engenheiros chamam de "fadiga auditiva". "Acho que quase tudo hoje em dia é masterizado um pouco alto demais", diz Bendeth. "A indústria decidiu que vivemos uma competição por volume."
Produtores e engenheiros chamam isso de "a guerra do volume", e ela tem mudado o som de quase todos os álbuns de rock e pop. Mas o volume não é a única questão. Programas de computador como o Pro Tools (que servem para que os engenheiros de som manipulem o som do mesmo jeito que um Word edita texto) fazem com que os músicos pareçam perfeitos, de uma forma não natural. E os ouvintes de hoje consomem uma quantidade cada vez maior de música em MP3, formato que elimina muitos dos dados existentes no arquivo original do CD e pode deixar o som metálico ou oco. "Com todas as inovações técnicas, a música ficou pior", diz Donald Fagen, do Steely Dan, banda que produziu discos notórios pela alta qualidade sonora. "Deus está nos detalhes. Mas eles foram apagados."
A idéia de que os engenheiros fazem álbuns com o volume mais alto parece estranha: o volume não é controlado por um botão em seu aparelho de som? Sim, mas cada movimento naquele botão comanda uma escala de volume, do vocal abafado à caixa da bateria - e arrastar o som para o alto da escala faz com que a música fique mais alta. É a mesma técnica usada para que os comerciais de TV fiquem mais alto do que os programas. E isso captura a atenção do ouvinte - mas tem um custo. No ano passado, Bob Dylan declarou à Rolling Stone que os álbuns atuais "estão cheios de sons. Não há definição de nada, nem de vocal, nada, parece tudo... estática".
Em 2004, Mary Guibert, a mãe do músico norte-americano Jeff Buckley (falecido em 1997), escutou a fita original das gravações de Grace, o principal disco lançado por seu filho. "Estávamos ouvindo instrumentos que nunca dava para ouvir no disco lançado, como os pratos de mão ou o som das cordas da viola", ela se lembra. "Fiquei espantada porque era exatamente aquilo o que ele tinha ouvido no estúdio."
Para desapontamento de Guibert, a versão remasterizada de Grace, lançada em 2004, não conseguiu captar a maioria desses detalhes. Assim, no ano passado, quando organizou a coletânea So Real: Songs from Jeff Buckley, ela insistiu em ter um consultor independente para supervisionar o processo, além de um engenheiro de masterização, que iria reproduzir o som que Buckley fez no estúdio. "Agora, dá para ouvir os instrumentos distintos e o som da sala", ela diz, sobre o novo lançamento. "A compressão borra tudo."
Muita compressão pode ser ouvida como desordem. Em Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, álbum de estréia do Arctic Monkeys, a banda parece que nunca dá uma pausa para tomar fôlego. Ao manter a intensidade constante, o disco deixa de mostrar os altos e baixos emocionais que normalmente existem em toda música. "Você perde a força do refrão, porque ele não fica mais alto que os versos", diz Bendeth. "Você perde a emoção."
O ouvido interno automaticamente comprime o excesso de volume para se proteger, assim nós associamos compressão com altura, conforme explica Daniel Levitin, professor de música e neurociência na Universidade McGill e autor do livro This Is Your Brain on Music: The Science of a Human Obsession (Esse é o Seu Cérebro com Música: A Ciência de uma Obsessão Humana). O cérebro humano se desenvolveu de forma a prestar especial atenção a barulhos altos, assim sons comprimidos inicialmente pareciam mais interessantes. Mas o efeito não dura. "O interesse na música vem da variação no ritmo, no timbre, no tom e na altura", diz Levitin. "Se você mantiver algo constante, pode se tornar monótono." Depois de alguns minutos, mostra a pesquisa, a altura constante começa a cansar o cérebro. Apesar de que poucos ouvintes percebam isso conscientemente, muitos sentem a necessidade de pular rapidamente para a próxima faixa.
"Se limitarmos a escala, isso se torna um assalto ao corpo", conta Tom Coyne, engenheiro de masterização que trabalhou com Mary J. Blige e Nas. "Quando se tem 15 anos, é a melhor coisa - parece uma martelada na cabeça. Mas quem quer ouvir isso em um disco inteiro?"
Para um ouvinte médio, uma escala dinâmica ampla cria uma sensação de espaço e facilita a audição dos instrumentos individualmente - como é possível perceber nos álbuns Modern Times, de Bob Dylan, e Not Too Late, de Norah Jones. "Quando as pessoas têm a coragem e a visão de fazer um disco dessa forma, sobem de nível", diz Joe Boyd, que produziu álbuns como o Fables of the Reconstruction, do R.E.M. "Parece algo mais quente, com um som tridimensional, diferente. Para mim, o som analógico afeta as pessoas de forma mais emocionante."
Produtores de rock e pop sempre usaram a compressão para equilibrar os sons de diferentes instrumentos e fazer a música soar mais animada. Já as estações de rádio usam a compressão por questões técnicas. Nos tempos dos LPs, havia um limite físico para a altura máxima dos níveis dos sons graves antes de a agulha começar a pular. Os CDs podem agüentar níveis superiores de altura, apesar de que eles, também, possuem um limite que os engenheiros chamam de "dB zero digital", acima do qual os sons começam a distorcer. Discos de pop raramente chegavam perto da marca dB zero antes da metade dos anos 90, quando os compressores e limitadores digitais - que cortam os picos das ondas sonoras - facilitaram a manipulação dos níveis de altura. Álbuns intensamente comprimidos, como (What's the Story) Morning Glory?, do Oasis (1995), colocaram um novo padrão: as canções se adaptaram a bares, carros e outros ambientes barulhentos. "Nos anos 70 e 80, o objetivo era chamar a atenção", diz Matt Serletic, ex-presidente da Virgin Records USA, que produziu discos do Matchbox Twenty e Collective Soul. "A música moderna deveria ser capaz de prender sua atenção." Rob Cavallo, que produziu American Idiot, do Green Day, e The Black Parade, do My Chemical Romance, complementa: "É um estilo que começou com o pós-grunge, para conseguir intensidade. A idéia era enfiar a cara do ouvinte na parede. Um CD para deixar aturdido".
Não é a nova música que está muito alta. Vários discos remasterizados sofrem do mesmo problema, já que os engenheiros aplicam a compressão para ajustá-los ao gosto moderno. A nova coletânea do Led Zeppelin, Mothership, está mais alta do que os álbuns originais da banda e Bendeth, que mixou o 30 #1 Hits de Elvis Presley, diz que o álbum ficou muito alto para o gosto dele quando foi masterizado. "Muitos audiófilos odeiam aquele disco", ele conta. "Mas as pessoas podem tocá-lo no carro e ele compete com o novo disco do Foo Fighters."
Assim como os cds acabaram com o vinil e com as fitas cassete, o MP3 e outros formatos digitais estão rapidamente derrubando os CDs como a forma mais popular de se ouvir música. Isso significa mais conveniência, mas som pior. Para criar um MP3, o computador copia a música de um CD e a comprime em um arquivo menor, excluindo a informação musical que o ouvido humano tem menos probabilidade de perceber. Muita informação eliminada está nos extremos do espectro, por isso o MP3 parece não ter nuances. O produtor Rob Cavallo diz que os MP3s não reproduzem bem a reverberação, e a falta de detalhes torna o som "quebrado". Sem sons graves suficientes, ele diz, "não há força. O som do bumbo da bateria diminui, assim como a forma como o alto-falante é empurrado quando o guitarrista toca um acorde mais forte".
Mas nem todos os arquivos de música digital são criados da mesma forma. Levitin diz que a maioria das pessoas sente que os MP3s ripados a uma taxa acima de 224 kbps são virtualmente indistinguíveis dos CDs (a loja virtual iTunes vende arquivos AAC tanto a 128 quanto a 256 kbps - o AAC é um pouco superior ao MP3 em taxas iguais. Já o portal Amazon.com vende MP3s a 256 kbps). Mesmo assim, "é como ir ao Museu do Louvre e, em vez da Mona Lisa, encontrar uma imagem de 10 megapixels dela", compara. "Sempre quero ouvir música da forma como os artistas querem que eu a ouça. Eu não apreciaria um quadro de Kandinsky usando um par de óculos escuros."
Os produtores também começaram a alterar a forma como mixam os discos, para assim compensar as limitações do MP3. "Você precisa se preocupar em como as pessoas irão ouvir a música, e quase todo mundo está ouvindo MP3", diz o produtor Butch Vig, membro do Garbage e produtor do clássico Nevermind, do Nirvana. "Alguns dos efeitos se perdem. Por isso, você precisa exagerar as coisas de vez em quando." Outros produtores acreditam que CDs intensamente comprimidos melhoram o MP3, já que a altura da música irá compensar a falta de detalhes do formato digital.
Como a tecnologia alterou a forma como os sons são gravados, ela também encorajou uma perfeição artificial na própria música. Fitas analógicas foram trocadas, na maioria dos estúdios, pelo Pro Tools. Edições que antes exigiam emendas nas fitas agora são facilmente realizadas com o clique de um mouse. Programas como o Auto-Tune podem melhorar a afinação de qualquer cantor; o Beat Detective faz o mesmo pelos bateristas.
"Dá para fazer qualquer um parecer profissional", diz Mitchell Froom, produtor que trabalhou com Elvis Costello e Los Lobos, entre outros. "O problema é que você tem algo que é profissional, mas não é distinto. Estava conversando com um baterista de estúdio e disse: 'Quando foi a última vez que você conseguiu descobrir quem era o baterista?' Dá para saber quem é Keith Moon ou John Bonham, mas agora todos soam iguais."
Então, a música está condenada a soar cada vez pior? A cons-ciência do problema está crescendo. O festival norte-americano South by Southwest recentemente apresentou um painel intitulado "Por que a música de hoje soa como merda?". Em agosto, um grupo de produtores e engenheiros fundou uma organização chamada Turn Me Up!, que propõe colocar avisos nos CDs que alcançarem alto padrão sonoro.
Mesmo assim, os ouvintes de CD parecem demonstrar pouco interesse em estéreos de alta qualidade, graças à popularização de sistemas home-theater de som surround. Além disso, formatos de disco de qualidade superior, como DVD-Audio e o SACD, se revelaram fracassos comerciais. Os produtores se lamentam, porque os ouvintes mais jovens cresceram tão acostumados à música comprimida e metálica dos MP3s que a batalha parece já estar perdida. "Os CDs têm um som melhor, mas ninguém está comprando mais", afirma Bendeth. "A era dos audiófilos já passou."
http://rollingstone.uol.com.br/edicao/19/o-fim-da-alta-fidelidade#imagem0
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Eduardo Galeano: como funciona a ditadura do consumo
O império do consumo: esta ditadura da uniformização obrigatória impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar
Eduardo Galeano*
A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?
A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar.
A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.
O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.
"Gente infeliz os que vivem a comparar-se", lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. "Quando não tens nada, pensas que não vales nada", diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: "Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações".
Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a "obesidade severa" aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado.
O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.
Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que veem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald's, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.
O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald's não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald's dispara hambúrgueres às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald's de Moscou, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.
Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald's viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas em 1998, outros empregados da McDonald's, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.
As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório.
Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros que este ou aquele banco oferece.
Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.
As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário.
A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes.
As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam veem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios [casebres], a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram.
Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam "porque as pessoas têm o gosto de juntar-se". Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas?
O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de ônibus e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.
O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante.
A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça.
Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.
A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera.
O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo?
A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta.
A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.
*Eduardo Galeano, falecido neste abril de 2015, foi considerado um dos principais escritores e pensadores políticos da América Latina do último século. O uruguaio escreveu mais de 40 livros. Esta publicação é uma homenagem póstuma ao escritor. Pragmatismo Político publicou outros textos de Galeano ou relacionados ao escritor aqui.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
quarta-feira, 22 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
A alegria é a prova dos 9
domingo, 22 de março de 2015
Resistência artística
Por Eduardo Campos Lima
Há cinquenta anos, artistas de teatro e músicos se reuniam para dar a primeira resposta cultural ao golpe militar de abril de 1964, fazendo um misto de espetáculo musical e peça de teatro. No dia 11 de dezembro daquele mesmo ano, estreava o Show Opinião, colagem de textos e canções conduzida por Nara Leão, Zé Kéti e João do Vale – uma criação artística que, ao longo de 1965, atraiu multidões no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades Brasil afora, assentando as bases da resistência artística à ditadura militar.
O Show Opinião foi concebido em meio à perplexidade da esquerda com a tomada do poder pelos militares. O golpe colocara fim à experiência artística mais potente dos jovens militantes do começo da década de 60, os centros populares de Cultura (CPCs), vinculados ao movimento estudantil e ativos no País inteiro. Por um breve período de pouco mais de dois anos, estudantes e intelectuais de diferentes regiões brasileiras organizaram uma ampla articulação de coletivos de teatro, cinema, música, literatura e artes plásticas, voltada à criação, distribuição e reflexão sobre a cultura nacional.
A iniciativa, impulsionada pelos teatrólogos Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, e Chico de Assis, resultou, no campo do teatro, em avanços inéditos na dramaturgia nacional, com a produção de peças que tratavam de temas até então pouco presentes nos palcos brasileiros, como greves, mobilizações estudantis, luta pela reforma agrária e o imperialismo internacional.
Leia a reportagem completa na edição 216 de Caros Amigos nas bancas ou loja virtual
terça-feira, 17 de março de 2015
A guinada conservadora de roqueiros dos anos 80
Por que roqueiros dos anos 80 se tornam neoconservadores? O paradoxo para essa geração niilista e hedonista herdeira do trauma da cultura hiperinflacionária é que o fim do mundo não aconteceu
Fazendo caras feias e rostos vincados, roqueiros dos anos 80 se zangam e protestam dizendo que 30 anos depois, nada mudou no País. Artistas e bandas de rock que na década de 1980, inspirados no punk e pós-punk, se opunham ao regime militar e reivindicavam pelas Diretas Já e democracia. Hoje, queixam-se para uma mídia ávida por declarações conservadoras não só contra o Governo, mas contra a própria instituição da Política e dos políticos. Por que só depois de 30 anos descobriram que o País "só patina ou piora"? Oportunismo em meio de carreiras em declínio? Forma de ganhar visibilidade midiática adotando o neoconservadorismo? Talvez a explicação não seja tão simples: por trás do niilismo e pessimismo fashion desses roqueiros talvez exista a repetição do trauma de uma geração que cresceu sob o impacto da cultura hiperinflacionária dos anos 80. Presos a essa cena de décadas atrás, de contemporâneos tornaram-se extemporâneos.
Em foto promocional do 18° discos dos Titãs, o grupo posa com caras de maus e vestidos de preto sobre lambretas. "São as caras feias de um Brasil que, vira e mexe não muda", dá legenda o jornal O Globo. E na matéria o guitarrista (e colunista do próprio jornal) Tony Bellotto, 53, fuzila: "é uma merda pensar como o Brasil há 30 anos ou patina, ou piora". É recorrente a leva de roqueiros dos anos 80 como Lobão, Roger, Dinho Ouro Preto, Léo Jaime entre outros que não só desfilam opiniões catastrofistas e de descrédito não só ao Governo Federal, mas em relação à própria instituição da Política em redes sociais e grande mídia.
A ânsia em se portarem como críticos politicamente incorretos algumas vezes beira ao protofascismo como no episódio da "pegadinha" do colunista da Folha Antônio Prata que, simulando ter aderido ao neoconservadorismo, escreveu sobre uma suposta conspiração de "gays, vândalos, negros, índios e maconheiros" no Brasil do PT. O roqueiro Roger do "Ultraje a Rigor" caiu na "pegadinha" e no twitter congratulou o articulista por "ter culhões". Roger não entendeu a ironia, na ansiedade de fazer parte da onda neoconservadora na grande mídia.
Em todos esses roqueiros sobreviventes dos anos 1980 dois traços em comum: a carreira em baixa por não conseguirem se reinventar e a paralela conquista de espaços na grande mídia como colunistas de revistas e jornais, repórteres de programas vespertinos como Vídeo Show da TV Globo, banda de apoio a talk showsde stand ups neoconservadores ou jurados de reality show musicais. E os espaços alternativos que ganham na grande mídia crescem na proporção direta em que se expõem como estrelas neoconservadoras que participam da grande editoria que unifica a todos: "o Brasil é uma merda!".
Para quem foi contemporâneo dessa geração como esse autor que traça essas linhas, é a princípio surpreendente esse posicionamento neoconservador. Uma geração cujas bandas participavam de programas alternativos de TV como Perdidos da Noite (1985-89) de Fausto Silva ou Fábrica do Som (1983-84) do vídeo maker Tadeu Jungle onde exibiam músicas furiosas e discursos críticos contra a ditadura militar e reivindicações viscerais pelas Diretas Já e a democracia na Política.
O que é marcante nesse discurso neoconservador é não só o ódio pelo PT, mas, principalmente, a descrença niilista da própria instituição da Política e da representatividade partidária pela qual reivindicaram há 30 anos.
Como explicar essa guinada ideológica de artistas e bandas de rock que, embalados pelos ventos do punk e pós-punk que sopravam da cultura pop, usaram essa força estética para protestarem contra o regime autoritário e a restrição a eleições diretas para presidente? E também como explicar por que só depois de 30 anos descobriram que o Brasil "ou patina, ou piora"?
Oportunismo? Artistas decadentes que procuram um lugar ao sol da grande mídia conservadora quando veem que suas carreiras estão em declínio? Acredito que a resposta talvez não seja assim tão simplista, mas resida no perfil psicocultural de uma geração que cresceu sob o impacto da hiperinflação da década de 1980
A cultura da hiperinflação
Ainda está por ser escrita uma história do legado que a cultura hiperinflacionária desse período deixou como mácula para toda uma geração. E essa história poderia começar a ser escrita a partir da forma como os expoentes artísticos dessa geração se entregam atualmente e de forma tão voluntariosa à onda neoconservadora e retrofascista que está em crescimento no País com linchamentos, ódio, intolerância e a sedução por "soluções finais" do tipo "golpe militar" ou "colocar uma bomba no Congresso"
A Nova República que se instalou no Brasil no início de 1985 deveria ser o princípio de uma transição democrática com o fim do regime militar. Mas o resultado foi que o País chegava a 1990 com inflação de 82% ao mês e aos inimagináveis 4.922% ao ano. Na atualidade, jovens na faixa dos 20 anos não conseguem imaginar o que era em um país onde o dinheiro que se tinha só dava para comprar a metade do que se poderia adquirir 30 dias antes.
O overnight (aplicação financeira que rendia taxas de juros diárias, e não mensais como habitualmente acontece hoje em dia) que acabou virando referência para o aumento dos preços virou o símbolo de uma cultura do "salve-se quem puder", da ausência de expectativas em relação ao futuro e do viver cada dia como se fosse o último.
Partindo dos estudos das relações entre cultura e inflação feitas pelo cientista político Elias Canetti, Bernd Widdig no seu livro Culture and Inflation in Weimar Germanypropõe um interesse enfoque cultural do dinheiro ao propor uma "semiótica da cultura inflacionária". Tomando como objeto de análise a histórica hiperinflação da Alemanha no período entre guerras ela vai afirmar que a linguagem do dinheiro é o mais importante medium através do qual a sociedade moderna se comunica. O que acontece quando esse medium perde a confiabilidade e parte-se em pedaços? Que espécies de ansiedades são criadas? Quais energias antes ocultas são liberadas?
Canetti no seu curto ensaio Inflation and The Crowd discorre sobre três dinâmicas culturais inter-relacionadas: a circulação, massificação e depreciação como componentes de um sentimento geral de degradação de si mesmo: quanto maior a aceleração da circulação do dinheiro, mais se incrementa o sentimento de massificação (efeitos de manada, pânico etc.) e tanto maior a depreciação não apenas monetária, mas do próprio indivíduo e do futuro, criando uma razão cínica niilista e hedonista.
Por isso, na crise hiperinflacionária acaba-se criando uma paradoxal convivência de perdedores, poderosos, luxo e ostentação, um mix traumático que acabou produzindo na Alemanha tanto as vanguardas artísticas como o nazifascismo.
Dez anos a mil
No Brasil, psicanalistas como Jurandir Freire Costa em seu texto Narcisismo em Tempos Sombrios de 1988 fazia um diagnóstico do que ele chamou de "pânico narcísico": o fortalecimento de uma cultura da razão cínica marcada pelo niilismo (a negação do futuro) e hedonismo (a busca de um eterno presente de prazer imediatista e descompromissado). A hiperinflação corroía todas as esperanças de que a transição para a democracia naturalmente levaria o País para o melhor dos mundos.
A poética das bandas de rock dos anos 80 reflete esse cinismo em relação ao futuro em versos como "é melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez" (Décadence Avec Élégance do Lobão) ou "devemos nos amar como se não houvesse amanhã" (Pais e Filhos do Legião Urbana) ou o niilismo do Barão Vermelho em Ideologia.
O Punk e o pós-punk chegam atrasados no Brasil (a virada punk dos Titãs com o disco Cabeça Dinossauro ocorre dez anos depois da explosão pop dos Sex Pistols). A estética "No Future" ou "DIY" (Do It Yourself – faça você mesmo) do punk é despolitizada e incorporada à atmosfera sombria de descrença em relação ao futuro e das próprias instituições políticas: "Ladrão por ladrão, vote no Faustão", caçoava Fausto Silva no programa Perdidos na Noite enquanto a banda Titãs tocava "Lugar Nenhum" – "Não sou brasileiro, não sou estrangeiro. Sou de lugar nenhum".
Nessa específica edição do Perdidos na Noite, questionados pelo apresentador Fausto Silva sobre a preferência de candidatos à presidência, os componentes dos Titãs se revezam entre a indiferença e o cinismo ao propor como candidatos Hermeto Paschoal e Jorge Mautner – veja vídeo abaixo.
Dilemas de uma geração
Se a depreciação e massificação produzidas pela hiperinflação alemã na cultura produziu a despolitização (a descrença em relação às instituições de representação e negociação política) que resultou na sedução pelas "soluções finais" e pelo nazifascismo, no Brasil a descrença generalizada na Política nos trouxe o sebastianismo do "caçador de marajás": a aposta suicida em alguém "diferente de tudo que está aí" e sedução por soluções diretas e sem negociações, representada pela figura trágica de Collor de Mello.
O paradoxo para essa geração niilista e hedonista herdeira do trauma da cultura hiperinflacionária é que o fim do mundo não aconteceu – afinal de contas, o fim do mundo não foi o fim do mundo, parafraseando a música do Lobão. Depois de 30 anos muita coisa mudou no Brasil que o espaço aqui dessa postagem não permite descrever.
Mas o psiquismo dessa geração parece ainda estar preso na cena traumática do passado, repetindo ainda 30 anos depois na cabeça a mesma cena da depreciação, do niilismo e do cinismo. Todos esses roqueiros, agora traduzidos como "neoconservadores", parecem conviver com os seguintes dilemas:
(a) o mundo não acabou, o País mudou, mas ainda tentam manter o discurso da revolta cínica e desesperançada com a qual chegaram ao estrelato na cultura da hiperinflação da década de 1980.
(b) suas carreiras começaram a entrar em declínio por não conseguirem se reinventar diante da mudança de cenário social e político. De contemporâneos tornaram-se extemporâneos.