[...] Temos diante de nós uma tarefa que deve ser rapidamente executada. sabemos que retardá-la será ruinoso. A mais importante crise de nossa vida requer, misteriosamente, energia imediata e ação. Inflamamo-nos, consumimo-nos na avidez de começar o trabalho abrasando-se toda a nossa alma na antecipação de seu glorioso resultado. É forçoso, é urgente que ele seja executado hoje e contudo adiamo-lo para amanhã. Por que isso? Não há resposta, senão a de que sentimos a perversidade do ato, usando o termo sem compreender-lhe o princípio. Chega o dia seguinte e com ele a mais impaciente ansiedade de cumprir nosso dever, mas com todo esse aumento de ansiedade chega também um indefinível e positivamente terrível, embora insondável, anseio extremo de adiamento. E quanto mais o tempo foge, mais força vai tomando esse anseio. A última hora para agir está iminente. Trememos à violência do conflito que se trava dentro de nós, entre o definido e o indefinido, entre a substância e a sombra. Mas se a contenda se prolonga a este ponto, é a sombra que prevalece. foi vã a nossa luta. O relógio bate e é o dobre de finados de nossa felicidade. Ao mesmo tempo é a clarinada matinal para o fantasma que por tanto tempo nos intimidou. Ele voa. Desaparece. Estamos livres. Volta a antiga energia. Trabalharemos agora. Ai de nós, porém, é tarde demais. [...] (Edgar Allan Poe)
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