Descobri que viver criativamente significa viver cada vez menos egoisticamente, viver cada vez mais no mundo, identificando-se com ele e tentando influenciá-lo. Tenho a impressão, agora, de que a arte, como a religião, é só uma preparação, uma iniciação a um meio de vida. O objetivo é a liberação, a liberdade, o que quer dizer assumir liberdades cada vez maiores. Escrever, além do ponto de auto-realização, me parece vão e inútil. O domínio de qualquer forma de expressão artística deve conduzir, inevitavelmente, à expressão final - o domínio da vida. Neste campo, cada um está absolutamente só, enfrentando os próprios elementos da criação. [...] Se é bem sucedida, o mundo inteiro se modifica. [...] Dar e receber são, no fundo, uma coisa só. [...] Vivendo abertos, tornamo-nos transmissores; e assim, como um rio, experimentamos a sensação de viver ao máximo, correndo numa linha paralela à correnteza da vida, morrendo apenas para renascer como oceanos. p. 208-209.
MILLER, Henry. O colosso de Marússia. Tradução de Cora Rónai. Porto Alegre: L&PM, 2003. 254 p.
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