Se tento imaginar o despotismo moderno, vejo uma multidão desmedida de seres parecidos e iguais, que dão voltas em torno de si mesmos, a fim de proporcionar-se pesquenos e mesquinhos prazeres com os quais satisfazem suas almas. Cada um deles é como um estrangeiro em relação aos demais. Os seus filhos e os seus poucos amigos constituem para ele toda a humanidade. O resto dos cidadãos está ali, ao lado dele, mas ele não os vê; vive somente para si e em si. Se existe ainda uma família, já não existe a pátria.
Acima dessa multidão vejo alçar-se um imenso poder tutelar, que sozinho ocupa-se em assegurar aos súditos o bem-estar e em zelar pela sua sorte. É absoluto, minucioso, metódico e até mesmo comedido. Pareceria com a autoridade paterna se tivesse como objetivo, como aquela, a preparação dos homens á virilidade. Mas, pelo contrário, busca somente mantê-los numa infância perpétua". 439
DE MASI, Domênico. Criatividade e grupos criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 795 p.
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