E um dia, ao percebermos que suas ocupações são mesquinhas, que suas profissões são enrijecidas e não estão mais ligadas à vida, por que não olhar para eles como uma criança observa algo de estranho, a partir da profundeza do próprio mundo, da amplitude da própria solidão, que é ela mesma um trabalho, um cargo e uma profissão? Por que se desejaria trocar o sábio não-entendimento de uma criança pela atitude defensiva e pelo desprezo, uma vez que o não-entendimento é estar sozinho, mas a atitude defensiva e o desprezo são participações naquilo de que, com esses recursos, as pessoas querem se afastar? Pense, meu caro, no mundo que o senhor leva dentro de si, então dê a esse pensamento o nome que quiser [...] apenas preste atenção no que surge a partir de dentro e eleve-o acima de tudo o que [...] percebe em torno. Se um acontecimento mais íntimo é digno de todo o seu amor, é nesse pensamento que [...] deve trabalhar de algum modo, sem perder muito tempo nem muito esforço para esclarecer sua posição em relação aos outros homens. Quem é que lhe diz que [...] tem uma posição?
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução de Pedro Sussekind. Porto Alegre: L&PM, 2009. 96 p. ISBN 978852541566-0
Nenhum comentário:
Postar um comentário