sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O parasita mora onde o grande tem pequenos pontos feridos

Para onde quer, porém, que desejeis subir comigo, tratai de que não suba convosco nenhum parasita! Parasita: é um verme, um bicho rastejante, insinuante, que quer engordar à custa das vossas chagas secretas. E é esta a sua arte: que adivinha, nas almas que se elevam, o ponto em que estão cansadas; no vosso pesar e desânimo, no vosso delicado pudor, ali ele constrói o seu repelente ninho; o parasita mora onde o grande tem pequenos pontos feridos. Qual é, de todos o seres, a espécie mais alta e qual a mais baixa? O parasita é a espécie mais baixa; mas quem é da espécie mais alta alimenta a maioria dos parasitas. p. 248
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Lua Negra

Em teu peito acento a face quente, como a tarde.
São teus olhos dois planetas, obscuros.
São teus olhos dois planetas, em órbitas, incertas.
Que observo como fazem, os astrônomos.

Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.

Em teu peito o tempo bate, um tambor de tempestade.
De quem ama feito louco, a felicidade.
E quem ama feito louco, deixa traços, da sua presença.
Como fazem os amantes, na despedida.

Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.
Chega a noite fria, e é sombria a luz da lua negra.

O teu beijo acende e arde, quente, como a tarde.
São teus olhos dois planetas obscuros.
São teus olhos dois planetas, em órbitas, perfeitas.
Que analliso como fazem, os astrônomos.

Chega o fim do dia e a lembrança da tua presença.
Chega o fim do dia e a lembrança da tua presença.



Composição e arranjo: D. Scopel

13 coisas para fazer depois de morrer

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Diluente

A vizinha do número catorze ria hoje da porta
De onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.
Ria naturalmente com a alma na cara.
Está certo: é a vida.
A dor não dura porque a dor não dura.
Está certo.
Repito: está certo.
Mas o meu coração não está certo.
O meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.
Cá está a lição, ó alma da gente!
Se a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,
Quem se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?
Estou só no mundo, como um pião de cair.
Posso morrer como o orvalho seca.
Por uma arte natural de natureza solar,
Posso morrer à vontade da deslembrança,
Posso morrer como ninguém...
Mas isto dói,
Isto é indecente para quem tem coração...
Isto...
Sim, isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas...
Glória? Amor? O anseio de uma alma humana?
Apoteose às avessas...
Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida! (p. 346)


REFERÊNCIA

CAMPOS, Álvaro de. Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 595 p.

Eu sou o lume das lareiras apagadas

Eu sou [...] o lume das lareiras apagadas, o pão das mesas desertas, a companheira solícita dos solitários e dos incompreendidos. A glória, que falta no mundo, é pompa no meu negro domínio. No meu império, o amor não cansa, porque sofra por ter; nem dói, porque canse de nunca ter tido. A minha mão pousa de leve nos cabelos dos que pensam, e eles esquecem; contra o meu seio se encosta os que em vão esperaram, e eles enfim confiam. p. 446
 
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

Eu não sou forte, nem nobre, nem grande

Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos. p. 148
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 534 p.

Outros cantores há

Outros cantores há, sem dúvida, para os quais somente a casa cheia torna a garganta melíflua, a mão eloqüente, os olhos expressivos, o coração desperto; -- não me assemelho a eles. -- p. 230
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

Vai para a tua solidão

Vai para a tua solidão com o teu amor, meu irmão, e com a tua atividade criadora; e somente mais tarde a justiça te seguirá capengando. p. 91
 
NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário da Silva. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 381 p.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Criações

Estilista

sexta-feira, 19 de agosto de 2011