segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O lugar da leitura e do leitor

CERTEAU, Michel de. Ler: uma operação de caça. In: ______ . A invenção do cotidiano: artes de fazer. 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. cap. XII, p. 259-273.

Com efeito, a leitura não tem lugar: Barthes lê Proust no texto de Stendhal; o telespectador lê a paisagem de sua infância na reportagem da atualidade [...] O mesmo se dá com o leitor: seu lugar não é aqui ou , um ou outro, mas nem um nem outro, simultaneamente dentro e fora, perdendo tanto um como o outro misturando-os, associando textos adormecidos mas que ele desperta e habita, não sendo nunca o seu proprietário. Assim, escapa também à lei de cada texto em particular, como à do meio social. p. 270

Sobre a credibilidade

CERTEAU, Michel de. A economia escriturística. In: ______ . A invenção do cotidiano: artes de fazer. 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. cap. X, p. 221-246.


Uma credibilidade do discurso é em primeiro lugar aquilo que faz os crentes se moverem. Ela produz praticantes. Fazer crer é fazer fazer. Mas por curiosa circularidade a capacidade de fazer se mover – de escrever e maquinar os corpos – é precisamente o que faz crer. p. 241

A douta ignorância

CERTEAU, Michel de. Foucault e Bordieu. In: ______ . A invenção do cotidiano: artes de fazer. 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. cap. IV, p. 111-130.

O uso do termo "estratégia" é [...] limitado. [...] Bordieu repete ao mesmo tempo que não se trata de estratégias propriamente falando: não há escolhas entre diversos possíveis, portanto "intenção estratégica"., [...] Não há previsão mas apenas um "mundo presumido" como a repetição do passado. Em suma, "como os indivíduos não sabem, propriamente falando, o que fazem, o que fazem tem mais sentido do que sabem". "Douta ignorância", portanto, habilidade que se desconhece. p. 124 (BORDIEU, 1970 apud CERTEAU, 2001, p. 124)