Com efeito, a leitura não tem lugar: Barthes lê Proust no texto de Stendhal; o telespectador lê a paisagem de sua infância na reportagem da atualidade [...] O mesmo se dá com o leitor: seu lugar não é aqui ou lá, um ou outro, mas nem um nem outro, simultaneamente dentro e fora, perdendo tanto um como o outro misturando-os, associando textos adormecidos mas que ele desperta e habita, não sendo nunca o seu proprietário. Assim, escapa também à lei de cada texto em particular, como à do meio social. p. 270
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
O lugar da leitura e do leitor
Sobre a credibilidade
Uma credibilidade do discurso é em primeiro lugar aquilo que faz os crentes se moverem. Ela produz praticantes. Fazer crer é fazer fazer. Mas por curiosa circularidade a capacidade de fazer se mover – de escrever e maquinar os corpos – é precisamente o que faz crer. p. 241
A douta ignorância
O uso do termo "estratégia" é [...] limitado. [...] Bordieu repete ao mesmo tempo que não se trata de estratégias propriamente falando: não há escolhas entre diversos possíveis, portanto "intenção estratégica"., [...] Não há previsão mas apenas um "mundo presumido" como a repetição do passado. Em suma, "como os indivíduos não sabem, propriamente falando, o que fazem, o que fazem tem mais sentido do que sabem". "Douta ignorância", portanto, habilidade que se desconhece. p. 124 (BORDIEU, 1970 apud CERTEAU, 2001, p. 124)